Contrapondo-se à concepções tradicionais que privilegiam a noção de unidade e totalidade do sujeito, a esquizoanálise propõe uma compreensão da psique como um território heterogêneo, marcado por fluxos, multiplicidades e intensidades.
Na prática clínica, a esquizoanálise desafia o modelo médico-patológico predominante, no qual os sintomas são interpretados como manifestações de uma doença subjacente. Em vez disso, ela busca compreender os sintomas como expressões criativas das dinâmicas internas do sujeito, enraizadas em suas relações com o mundo e com os outros. Nesse sentido, a esquizoanálise promove uma escuta sensível e uma abertura para a singularidade de cada experiência, recusando-se a reduzi-la a categorias predefinidas.
Um dos conceitos centrais da esquizoanálise são os “agenciamentos”, que se refere às configurações complexas de elementos materiais, sociais e semânticos que constituem as experiências do sujeito. Na prática clínica, isso implica em reconhecer que as transformações pessoais não ocorrem no “vácuo”, mas através de interações dinâmicas com o ambiente e com os diversos elementos que o compõem. Assim, o papel do terapeuta na esquizoanálise não é o de um especialista que impõe interpretações, mas sim o de um co-investigador que colabora com o paciente na exploração de seus agenciamentos e na criação de novas possibilidades de existência.
Além disso, a esquizoanálise destaca a importância da desterritorialização e reterritorialização na produção de subjetividade. Desterritorializar implica em romper com as estruturas estabelecidas que limitam a expressão do sujeito, enquanto reterritorializar implica em criar novas formas de organização que permitam a emergência de novos modos de ser e de se relacionar. Na prática clínica, isso se traduz em uma atenção cuidadosa às linhas de fuga e aos pontos de bloqueio presentes na experiência do paciente, buscando promover processos de transformação que ampliem sua liberdade e criatividade.
Em suma, a esquizoanálise oferece ferramentas importantes para compor uma abordagem radicalmente subversiva e libertadora da prática clínica, convidando-nos a repensar nossas concepções sobre a psique, o sofrimento humano e o processo terapêutico. Ao desafiar as hierarquias e dualismos que estruturam nosso pensamento, ela nos convida a abraçar a complexidade e a multiplicidade que caracterizam a vida humana, oferecendo novas possibilidades de compreensão e intervenção.